Foram mais de 23
anos de experiência profissional dentro de grandes empresas. Comecei muito
precocemente, numa posição que deveria ser Senior. Naquela época, eu não tinha
qualquer noção do que isso significava, então, fui encarando do meu modo junior
de ser, e sobrevivendo a tudo - desde um total despreparo para lidar com
questões relacionadas a comportamentos, posturas e políticas no mundo
corporativo, a descoberta da psicopatia
profissional velada nos outros, o
desafio de controlar meu impulso justiceiro e imaturo, o sigilo em nome do
dever (hoje essas coisas seriam resiliência), até o amadurecimento que,
finalmente, fortaleceu minha conduta e minhas decisões na carreira. Foi um
enorme e rico aprendizado sobre trabalho, pessoas e relações estratégicas. Doeu
demais, e valeu demais.
Antes desta
trajetória corporativa, meu mundo, meus planos e sonhos moravam na sala de
aula. Sou professora de formação, e de lá, trago o tom, o prazer e o ideal que
dirige minhas relações: aprender + ensinar + celebrar + aprender + ensinar +
celebrar.... Um conjunto infinito de experiências, onde tempo, sequência,
investimento, intensidade e protagonismos são diversos e variados - exatamente
como a vida.
O relógio do tempo
girou, o mundo mudou, a fila andou...
De repente (acho
que nem foi tão de repente assim...), em
meio à prática de tudo que – consciente e inconscientemente - escolhi viver, me
deparei com a oportunidade de combinar minha experiência, meu jeito e minha habilidade, e montei o “look” do meu propósito de vida. Como
boa parte das pessoas que redirecionaram suas carreiras e se desligaram de
empresas para desafios solo, eu também me
encontrei na estrada da Consultoria. É uma estrada larga, popular, livre - às
vezes, até um pouco confusa, e com atalhos para muitos diferentes destinos, mas
eis-me aqui. Tornei-me uma profissional na área de Coaching, Consultoria e
Mentoring.
Nesta trajetória, resolvi
profissionalizar o que normalmente faria por intuição, sentimento ou ocasião,
que é caminhar, acompanhar e direcionar aqueles que buscam apoio e orientação para
seus momentos – presente e futuro. Neste
processo de certificação do Coaching, por exemplo, a volta a um aprendizado
técnico e a interação com novas e diferentes experiências profissionais, inevitavelmente
me trouxe um novo e delicado ajuste: o
autoconhecimento - coisa preciosa, arrebatadora e transformadora, que, na mesma
proporção que dói, cura e revigora.
Contudo, ainda sou
tomada por alguns assombros nessa estrada profissional. Embora certificada, aparelhada
de conceitos e técnicas, não consigo ficar impassível diante dos vestígios
bestiais que emergem nas atitudes humanas.
Mas se foi para isto que me equipei, então, é neste tema que vou me desafiar
todos os dias, fortalecida e preparada no próprio movimento de cada um, apesar
de entristecida com a proliferação dos efeitos do bicho homem - este pequeno
elemento que edifica com a mesma energia e convicção com que destrói; capaz de
lesar o outro e a si mesmo em nome de apelos pessoais, sociais ou profissionais, que moram longe de
princípios e verdades que deveriam ser inegociáveis, quase sagrados; e que ele
maneja como um brinquedo a seu bel prazer, para massagear seu ego inflado de
cobiça. Isto se tornou um costume, quase um padrão. Mais lamentável ainda é
perceber que, nesta fábula, já não existe consciência, vulnerabilidade, ou
medida sensível capaz de abrir caminho para um resgate da espécie. São tantos
da mesma linhagem, com as mesmas mediocridades, que já se cauterizou qualquer
constrangimento, e trouxe apatia e indiferença inclusive aos que são por ele
feridos.
A este respeito,
não me sinto mais Junior!
Junior, Pleno e
Senior – embora sejam termos mais frequentemente atribuídos à carreira, podem
ser mais que isto, pode ser entendido como um avanço pessoal que impacta tanto
na função desempenhada quanto no traquejo que as experiências de vida nos
oferecem - se acolhemos e aplicamos, ou se desperdiçamos.
A habilidade de
reconhecermo-nos eternos aprendizes é um avanço em direção a senioridade do ser.
E é sobre esta premissa que tenho buscado construir pequenos avanços diários; reaprendendo
sobre mim, sobre minhas expectativas, suposições e julgamentos prematuros, apurando
crenças pessoais que me foram incorporadas quando eu ainda não tinha competência
para legitimá-las, quando nem junior era em minha percepção de vida; e
aprendendo também sobre o outro, suas histórias, complexidade e fragilidade
disfarçadas.
Sobre o bicho homem,
sua vaidade lunática, e suas atitudes funestas, desenvolvi uma estratégia, que sigo
se me percebo diante de suas “emboscadas” – estratégia milenar, brilhante,
eficaz e transformadora: “Quanto ao mais, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Bíblia
Sagrada, Livro de Filipenses 4:6). - Então, é
assim: se não cabe neste preceito, não cabe na minha alma. Descarto, e sigo com
aqueles que me acolherem genuinamente como uma companhia em seus momentos, seus
avanços pessoais, profissionais, sem qualquer desperdício de ambas as partes, na disposição de alma para um aprendizado correspondido.
Resumiria dizendo
que entre alguns assombros, mas também entre muitas delícias e celebrações, e
em nome de meu propósito de vida, me desafio todos os dias para inquietar
ambientes, pessoas e situações frios e negligentes diante do deslumbramento da nossa existência. Porque
eu entendo que somente num resgate diário de nós mesmos seremos capazes de
curar os medíocres, e os feridos pela mediocridade.