Num dado momento
da história da humanidade, comunicar-se foi uma necessidade de sobrevivência quase
que tão básica quanto comer.
Vivendo em
comunidade, os homens passaram a compartilhar espaços, hábitos, coisas, e,
assim, foi inevitável criar um jeito para se comunicar e crescer como grupo. Primitivamente,
nasceram gestos, palavras, desenhos, rituais, etc., caracterizando a noção de sociedade que temos.
Embora seja
difícil pontuar os estágios desta evolução, o surgimento da escrita foi
consequência natural deste processo. Aos poucos, entre um rabisco “excêntrico”,
um traço “inovador”, ou um desenho imprevisível, de algum modo, foram
aparecendo códigos, juntando sinais, e se produzindo o que hoje chamamos de
palavra. Pelo menos, é como eu imagino.
A escrita foi,
sem sombra de dúvida, uma enorme contribuição para a organização do pensamento,
das ideias, e um recurso poderoso para registro dos mesmos, ao longo do tempo.
E continua sendo, apesar de toda evolução tecnológica.
Em algum momento
nas etapas de construção de uma nova visão de mundo - físico, sensorial ou
imaginativo, torna-se sine-qua-non estudar,
e buscar na história escrita conceitos que validem as descobertas e convicções
recentes.
Quando nos
voltamos para este entendimento, nos vemos diante de um conflito, um
entroncamento de perspectivas: (a) permitir, e eleger neologismos, gírias e outras
variações (quaisquer que sejam) como novas e ricas contribuições para a
continuidade do processo linguístico na história social, sob ameaça ao
conservadorismo de se perder tradição, memória e “linhagem”; e (b) menosprezar,
reprimir e até censurar as novidades e modismos na linguagem – falada e
escrita, na tentativa de garantir uma suposta “língua culta”, também sob a ameaça de projetar uma cultura
ilegítima, que restringe e discrimina os falantes, e promove mais preconceito.
Então, qual o
caminho a seguir? Eu acredito que o caminho do conhecimento é uma opção.
Mas qual é o
caminho do conhecimento?
É o caminho onde
nada é irrelevante ou descartável, venha de onde vier; é o caminho de
encontros, troca, informação, onde todos nos assumimos potenciais alunos, da
vida e uns dos outros, recebendo, transferindo, ampliando e semeando.
O caminho do
conhecimento é onde nenhuma linguagem é certa ou errada, rica ou pobre, culta
ou vulgar, mas talvez, por sabedoria, ocasião ou quiçá necessidade, a aplicação
de determinados recursos, formas ou estudo serão bem vindos, apreciados e até
ser exigida.
Um caminho onde
todos têm direito à educação, acesso à cultura e seus hábitos e costumes respeitos. Assim, todos serão cultos, integralmente qualificados
a contribuírem com a inevitável dinâmica da linguagem face a evolução da
humanidade, sem perder-se em identidade histórica, e liberdade de expressão.
Resumindo: se educação
não fosse mais uma categoria a serviço da marginalização social, a linguagem –
ainda que variada e idiossincrática – exerceria o papel de indicador e reflexo
de uma época, região ou comunidade (física ou filosófica), minimizando seu parâmetro
econômico, intelectual e de alienação.
Por isso tudo,
quem puder, não despreze o aprendizado, nem renuncie a revolução.
Na dúvida, #ficaadica que nem é minha: “Nunca
subestime o poder de sedução de um vocabulário decente..” ― Lessa Rose