9 de agosto de 2017

Sobre falar e escrever “corretamente” hoje em dia...



Num dado momento da história da humanidade, comunicar-se foi uma necessidade de sobrevivência quase que tão básica quanto comer.
Vivendo em comunidade, os homens passaram a compartilhar espaços, hábitos, coisas, e, assim, foi inevitável criar um jeito para se comunicar e crescer como grupo. Primitivamente, nasceram gestos, palavras, desenhos, rituais, etc.,  caracterizando a noção de sociedade que temos.
Embora seja difícil pontuar os estágios desta evolução, o surgimento da escrita foi consequência natural deste processo. Aos poucos, entre um rabisco “excêntrico”, um traço “inovador”, ou um desenho imprevisível, de algum modo, foram aparecendo códigos, juntando sinais, e se produzindo o que hoje chamamos de palavra. Pelo menos, é como eu imagino.
A escrita foi, sem sombra de dúvida, uma enorme contribuição para a organização do pensamento, das ideias, e um recurso poderoso para registro dos mesmos, ao longo do tempo. E continua sendo, apesar de toda evolução tecnológica.
Em algum momento nas etapas de construção de uma nova visão de mundo - físico, sensorial ou imaginativo, torna-se sine-qua-non estudar, e buscar na história escrita conceitos que validem as descobertas e convicções recentes.
Quando nos voltamos para este entendimento, nos vemos diante de um conflito, um entroncamento de perspectivas: (a) permitir, e eleger neologismos, gírias e outras variações (quaisquer que sejam) como novas e ricas contribuições para a continuidade do processo linguístico na história social, sob ameaça ao conservadorismo de se perder tradição, memória e “linhagem”; e (b) menosprezar, reprimir e até censurar as novidades e modismos na linguagem – falada e escrita, na tentativa de garantir uma suposta “língua culta”,  também sob a ameaça de projetar uma cultura ilegítima, que restringe e discrimina os falantes, e promove mais preconceito.
Então, qual o caminho a seguir? Eu acredito que o caminho do conhecimento é uma opção.
Mas qual é o caminho do conhecimento?
É o caminho onde nada é irrelevante ou descartável, venha de onde vier; é o caminho de encontros, troca, informação, onde todos nos assumimos potenciais alunos, da vida e uns dos outros, recebendo, transferindo, ampliando e semeando.   
O caminho do conhecimento é onde nenhuma linguagem é certa ou errada, rica ou pobre, culta ou vulgar, mas talvez, por sabedoria, ocasião ou quiçá necessidade, a aplicação de determinados recursos, formas ou estudo serão bem vindos, apreciados e até ser exigida.
Um caminho onde todos têm direito à educação, acesso à cultura e  seus hábitos e costumes respeitos.   Assim, todos serão cultos, integralmente qualificados a contribuírem com a inevitável dinâmica da linguagem face a evolução da humanidade, sem perder-se em identidade histórica, e liberdade de expressão.
Resumindo: se educação não fosse mais uma categoria a serviço da marginalização social, a linguagem – ainda que variada e idiossincrática – exerceria o papel de indicador e reflexo de uma época, região ou comunidade (física ou filosófica), minimizando seu parâmetro econômico, intelectual e de alienação.
Por isso tudo, quem puder, não despreze o aprendizado, nem renuncie a revolução.
Na dúvida, #ficaadica que nem é minha: “Nunca subestime o poder de sedução de um vocabulário decente..” ― Lessa Rose


Nenhum comentário:

Postar um comentário